segunda-feira, novembro 13, 2006

As dúvidas da globalização

A propósito do novo prémio nobel da economia, Edmund Phelps, e das suas ideias, Luís Aguiar Conraria, do Destreza das Dúvidas, tem três entradas interessantes: Edmund Phelps, prémio nobel da economia 2006; Phelps e o salário mínimo; e Phelps e a globalização. Vale a pena ler e aprender!

Em relação ao último tema Phelps é um claro defensor da globalização, apesar de lhe apontar algumas desvantagens como o «(1) aumento do comércio internacional com países com mão-de-obra barata (como a China ou a Índia) e (2) as novas tecnologias de informação permitem às empresas dispensarem muitos trabalhadorescompensadas pelos benefícioseconomia global e contra os entraves . ». Tais inconvenientes são, no entanto, compensadas pelo estímulo ao surgimento de novos negócios e à inovação tecnológica que a globalização representa, segundo o nobel.

Apesar de concordar com essas ideias entendo que devia haver um conjunto de regras mínimas comuns para que se pudesse falar verdadeiramente de competição global e para que esta fosse mais saudável.
Como podem as nossas empresas concorrer com as de outros países que têm na exploração da sua mão-de-obrado o seu grande trunfo, que pagam salários cinco vezes inferiores aos nossos e não asseguram o mínimo de direitos e condições aos seus trabalhadores?

Se quer dentro de Portugal quer dentro da UE se reconhece a necessidade duma livre e sã concorrência, através da uniformização de regras, porque não exigir o mesmo do globo?

O respeito pela dignidade humana é um princípio que orienta o desenvolvimento das sociedades mais modernas. A bem duma boa coabitação entre todos devia-se exigir uma maior valorização do trabalho humano, sobretudo aqueles que o desconsideram de forma tão evidente.

16 comentários:

AM disse...

Caro Ricardo

É precisamente esse o "ferro em que é necessário malhar".

Lembro-me que uma ocasião (anos 2000/2001), na Universidade Católica de Lisboa, onde estava a fazer uma pós-graduação em gestão, coloquei essa mesma questão ao césar das neves, nestes termos:

"Se, no que concerne por exemplo, à comercialização de brinquedos, temos um conjunto de regras e regulamentos tão rigoroso, para garantir que os ditos brinquedos são seguros para as "nossas" crianças, por que razão nos é indiferente que os mesmos brinquedos sejam fabricados por crianças na china ou noutros países semelhantes, a trabalhar em condições próximas da escravatura?"

Pois fique sabendo que o super católico césar das neves (quase espumando pela boca) me retorquiu que ainda era um favor que estvamos a fazer a essas crianças, pois à mingua desse trabalho a alternativa estava apenas na prostituição infantil.

Por pouco (e não estou a exagerar) me acusava de estar a defender a prostituição infantil, quando defendia o estabelecimento de um conjunto de regras sociais e laborais mínimo, para que as empresas dessas "economias emergentes" pudessem colocar os seus produtos no "nosso" mercado.

Nem os argumentos óbvios da impossibilidade de uma concorrência saudável e, por essa via a inevitável destruição a prazo do "nosso" tecido produtivo e a consequente criação de miséria que já então se adivinhava, foram suficientes para vergar aquele bastião da globalização na sua vertente única de capitalismo selvagem.

Acredito que é esta a batalha a travar pela união europeia e a batalha a travar por todos os cidadãos europeus que acreditem na justiça e que anseiem por uma sociedade em que haja trabalho com direitos para todos, e não apenas uma luta desenfreada pelo lucro a qualquer custo.

Um abraço
AM

rb disse...

Caro AM,

O seu exemplo é excelente e esse argumento do mal-menor que deu CN só revela a nossa incapacidade de enfrentar o problema, o que, comodamente aceitamos.
O que é curioso é que o nobel da economia Phelps entende que tais desvantagens são compensadas pelo surgimento de novas oportunidades de negócio e impulso à inovação tecnológica que a globalização proporciona.
Mas para mais discussão, e o seu contributo é sempre apreciável, nada como ir até ao DdD. A discussão está viva por lá.

Um AbraÇo

AM disse...

"nada como ir até ao DdD"

DdD?

AM

rb disse...

Destreza das dúvidas, de LA-C, tem o link neste blog e no postal.

AM disse...

Já lá fui

Vai-me faltando a pachorra para os argumentos de sempre, mais volta menos volta no final a culpa da pobreza é sempre dos pobres......

AM

Luís Aguiar-Conraria disse...

"Vai-me faltando a pachorra para os argumentos de sempre, mais volta menos volta no final a culpa da pobreza é sempre dos pobres...?"

Como?

AM disse...

"Como? "

Assim mesmo:

"Vai-me faltando a pachorra para os argumentos de sempre, mais volta menos volta no final a culpa da pobreza é sempre dos pobres......"

Ou acaso acha que há muito mais a retirar do tipo de argumentação habitualmente usado (incluindo a sua) para defender "esta" globalização e justificar os seus efeitos?

Fui ao seu blog, li os textos e os comentários a este propósito.
Nem tive pachorra para lá comentar.

É só a isto, depois de bem espremida, que se resume a "vossa" argumentação.

AM

Luís Aguiar-Conraria disse...

Eu pergunto-lhe, em todo o meu blogue, e nem sequer só neste post em concreto, o que é que leu a minha parte que lhe permita tirar essa conclusão, de que a pobreza é culpa dos pobres?
Evidentemente que não o posso obrigar a responder, mas realmente gostaria de perceber o que é que escrevi que possa ter originado tal leitura.
Repare que no seu primeiro comentário revelou-se admirado (e até chocado com o dislate) pela forma como César das Neves o acusava de defender algo que obviamente não defendia (a prostituição infantil). Compreenda que, da mesma fora, quando dizem que eu defendo que a pobreza é culpa dos pobres eu fique também chocado, e que peça algum esclarecimento. O que disse eu que poderia originar tal interpretação?

AM disse...

Obviamente que nem o LAC nem ninguém (ao menos que eu saiba) afirmou textualmente que “a culpa da pobreza é dos pobres”, pelo que seria de esperar que tivesse entendido a (amarga) ironia.

Assim, face à insistência (sustentada pelo exemplo césar das neves) lá terei que fundamentar:

De facto, se analisarmos a linha de argumentação que adopta (comum à generalidade dos defensores “desta” globalização), apenas se pode chegar à conclusão de que “a culpa da pobreza é dos pobres”.

Quando se procura limitar a discussão a uma simples análise economicista onde, naturalmente, se entende sempre como benéfica a criação de mais riqueza a um menor custo, sem procurar ao mesmo tempo ter em linha de conta quais os reais benefícios dessa maior criação de riqueza e QUEM colhe esses benefícios, nem quais as consequências dessas políticas e QUEM as sofre, o LAC (como tantos dos que afinam pelo mesmo diapasão) não atribui qualquer CULPA aos que, criando ou apenas aproveitando as condições (IMORAIS a meu ver) que lhes permitam apropriar-se da riqueza assim criada sem cuidar das, inevitáveis, consequências, pelo que, a culpa destas só pode então ser atribuída às suas “vítimas”.

Ou então "morre solteira", ou diz-se que "á a vida" como o "outro".

Quando se escreve, por exemplo, isto:
“P.S. Quanto à questão da exploração, penso que te estás a referir à mão-de-obra chinesa. Se concordares, neste momento estou mais preocupado em explicar por que a Europa beneficia do comércio com a China, independentemente da exploração da mão-de-obra chinesa. O teu argumento inicial era que nós ficávamos prejudicados porque a concorrência chinesa era desleal dada a exploração de mão-de-obra que por lá grassa. É isso que pretendo rebater. Discutir qual a melhor forma de proteger os trabalhadores chineses pode ficar para outra entrada, se estiveres de acordo.”

Está-se, efectivamente a “relativizar” a análise, está-se a procurar limitar a análise a uma simples análise ao comércio entre a Europa e a China, “independentemente da exploração da mão-de-obra” como se fosse possível, como se fosse sério, como se fosse ético, fazer a análise de uma actividade independentemente do seu factor fundamental, procurando fazer passar a ideia que, enfim, apesar de se reconhecer que existe “exploração da mão-de-obra”, eufemismo para exploração de seres humanos, homens, mulheres e crianças, podemos, para efeitos desta análise, esquecer essa circunstância.

Mas mais, tenta-se passar a ideia que essa exploração é, apenas de “mão-de-obra chinesa”, o que,sabe-se lá, para alguns, pode servir de consolo, procurando iludir o facto de que, efectivamente, ao criar desemprego na Europa se está a sobrecarregar toda a sociedade com os custos sociais desse desemprego (e nunca, nem sequer apenas, os tais que exclusivamente beneficiam da riqueza assim criada) e se está, a prazo, a criar as condições para que os novos pobres, nesta nossa Europa, venham a ser obrigados a aceitar qualquer trabalho sem condições nem dignidade.

Mas, apesar disto, o LAC está “…mais preocupado em explicar por que a Europa beneficia do comércio com a China”, pois, mas qual EUROPA?

AM

Luís Aguiar-Conraria disse...

“sem procurar ao mesmo tempo ter em linha de conta quais os reais benefícios dessa maior criação de riqueza e QUEM colhe esses benefícios, nem quais as consequências dessas políticas e QUEM as sofre”

OK, então foi aqui que não percebeu o texto, ou melhor, o que eu não me fiz entender. O texto descreve quais as classes mais desfavorecidas com a globalização e quais são as melhores medidas possíveis para mitigar esses efeitos. Aliás, Phelps explicitamente defende o uso de subsídios para mitigar esses efeitos. O texto fala sobre isso explicitamente.
Pode ou não concordar com as medidas que foram propostas, (pelo que entendo o AM defende outras) agora é incorrecto dizer que esta avaliação dos custos e das classes desfavorecidas pela globalização não está feita.

“está-se a procurar limitar a análise a uma simples análise ao comércio entre a Europa e a China,”

Peço perdão, mas está a fazer um processo de intenções sem qualquer base para o fazer e descontextualizando a afirmação que cita. O Ricardo levantou a questão de saber se a concorrência desleal dos chineses nos prejudicava objectivamente ou não. Eu limitei-me a pedir ao Ricardo para deixar a questão dos direito humanos na China para outra entrada. Não só não fugi à questão, como, inclusivamente, me voluntariei para escrever uma entrada dedicada ao assunto.

“ao criar desemprego na Europa se está a sobrecarregar toda a sociedade com os custos sociais desse desemprego (e nunca, nem sequer apenas, os tais que exclusivamente beneficiam da riqueza assim criada)”

Vejo que mais uma vez não leu/não percebeu o texto, ou não me fiz entender. Phelps propõe uma forma de distribuir a riqueza criada por toda a sociedade. Mais uma vez, o AM pode não concordar com a política que Phelps prescreve, mas em vez de recorrer a insultos devia antes explicar por que motivo a sua proposta é melhor.

“Mas, apesar disto, o LAC está “…mais preocupado em explicar por que a Europa beneficia do comércio com a China”, pois, mas qual EUROPA?”

Essa é uma pergunta muito interessante e particularmente pertinente, pois Portugal é dos principais prejudicados. Se estiver interessado em discuti-la a sério (em vez de andar a distorcer o que escrevo e fazer processos de intenção baseados não sei em quê) terei gosto em discutir consigo e convido-o para passar pela destreza das dúvidas.

AM disse...

Caro LAC

Quando o que escrevo, após a sua insistência, é por si interpretado e classificado como "recorrer a insultos", como "...andar a distorcer o que escrevo e fazer processos de intenção baseados não sei em quê...", então, claramente, tenho que repetir que me vai faltando a pachorra para ouvir repetir os mesmos argumentos de sempre e para este tipo de discussão sem conclusões.

Quando, ainda por cima, à minha questão "... qual EUROPA?" responde que:

"... Essa é uma pergunta muito interessante e particularmente pertinente, pois Portugal é dos principais prejudicados..."

Demonstra que estamos em "comprimentos de onda" completamente diferentes, pelo que teria que perguntar agora (a ver se desta o LAC já percebia):

" ...Portugal é dos principais prejudicados"

mas, qual PORTUGAL ?????

AM

AM disse...

Porque talvez ajude um bocado a pensar as questões de uma outra forma, fui buscar um "post" que um dia escrevi no SEDE.
Na altura referia-me à clássica dicotomia Norte/Sul, mas para uma Europa/China; Europa/Portugal, ou qualquer outra, pode ser que também ajude a pensar:


"Porque o natal está próximo

Quem tem mais em comum?

Belmiro de Azevedo e uma caixeira do Continente de Gaia?
Ou
Uma caixeira do Continente de Gaia e uma do Jumbo de Alfragide?

Um professor da Católica do Porto e um toxicodependente do Aleixo?
Ou
Um toxicodependente do Aleixo e outro da Cova da Moura?

O Sr. Abade das Antas e um jovem licenciado desempregado de Campanhâ?
Ou
Um jovem licenciado desempregado de Campanhâ e outro de Benfica?

Uma qualquer “Patanisca Cerqueira Gomes” e um reformado com a pensão mínima, de Paranhos?
Ou
Um reformado com a pensão mínima, de Paranhos e outro de Carnide?"

AM

rb disse...

Sem me querer meter na discussão, que estou a acompanhar com interesse, só queria dizer que, por mim, a caixa é toda vossa.

Luís Aguiar-Conraria disse...

"tenho que repetir que me vai faltando a pachorra para ouvir repetir os mesmos argumentos de sempre e para este tipo de discussão sem conclusões."

OK. Nao o quero obrigar a discutir contrariado. Se algum dia mudar de ideias, passe pela destreza das duvidas, que temos muito gosto nestes debates.
Grande abraco do
LA-C

AM disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
AM disse...

Não leve a mal

É apenas fatiga da discussão por discussão, do esgrimir argumentos apenas para "ganhar o debate"

Já não se tenta aprender com as opiniões de cada um, de dois pontos de vista diferentes construir uma conclusão mais sólida...

As condições que levam tantos milhares dos nossos "irmãos" para a miséria, não podem ser vistas como inevitabilidades, como fenómenos que ocorrem numa outra espécie que não a nossa.

Que são meros objectos de análise económica ou sociológica ou outra que tal.

É o NOSSO futuro que está em causa, é o futuro dos NOSSOS filhos.

Não tenho mesmo pachorra para discussões meramente académicas, desculpe.

Outro abraço

AM