sábado, março 01, 2008

O poeta é o portador. Carrega tudo,

Mas ele mesmo é a carga e o encarregado,

Tal, na aldeia dos sãos, é o surdo-mudo,

Cheio deles e de si, triste, pasmado.

A força do Sentido o faz escudo

Do fogo que não pode ser roubado

Enquanto ofereça o coração agudo

À guerra em que nasceu para soldado.

Sua coragem na palavra o espera,

Aguardado silêncio pensativo,

Como a hora que a torre negra dera

Além da meia-noite e antes da hora

Prima, que a madrugada álgida chora,

Lágrima a tempo, átono som cativo.

(Vitorino Nemésio)

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