segunda-feira, novembro 19, 2007

O encanto da música

Este Domingo, na rtp2, deliciosa a conversa-entrevista, no programa, Câmara Clara, da Paula Mora Pinheiro, com as convidadas Joana Carneiro e Gabriela Canavillas.
Aos 30 anos, Joana Carneiro, é um caso de notável e raro sucesso artístico. Desde 2004 é maestrina assistente da Filarmónica de Los Angeles. Como maestrina principal convidada, dirigiu a Orquestra da GulbenKian, 2005-06, e, desde 2006, dirige a OrquestraMetropolitana de Lisboa. Ainda à conversa, e mais numa perspectiva de direcção administrativa, esteve Gabriela Canavillas, pianista e actual presidente da direcção da associação que tutela a Orquestra Metropolitana de Lisboa.

Falaram do fenómeno extraordinário que é poder comandar um conjunto de dezenas ou centenas de pessoas através da música. Gente das mais diversas nacionalidades, raças e diferentes personalidades, unidas pela linguagem musical e nada mais. O poder da música na formação do indivíduo.

Inevitavelmente, veio à baila o tema da dificuldade de uma mulher exercer funções de poder e de liderança na sociedade. De algum machismo que, infelizmente, digo eu, ainda reina. Por pouco tempo, digo, também.

A Gabriela Canavillas alertou para crise de cultura musical que o país atravessa há vários séculos. Os tempos áureos datam das invasões Filipinas. Curiosamente. Da luta estóica que é fazer algo pela música em Portugal.

No programa, chamou-se a atenção para o descontentamento do meio do ensino musical em relação à reforma do ensino artístico que o governo quer implantar. Não estou por dentro do assunto, mas parece que o ministério não quer reconhecer a especificidade do ensino da música, com a necessidade de aulas individuais. De facto, tenho ouvido algumas vozes de veemente indignação.

Seria uma burrice de todo o tamanho menosprezar o potencial que representa a música no desenvolvimento social, além de ser a arte mais bela, exprime um modo de organização social profundo e pode mesmo constituir um importante instrumento de paz.



4 comentários:

Rui Guerra disse...

uma sucessão de posts com claves

rb disse...

É verdade, caro Rui, que estou cada vez mais melómano.
A actualidade anda desinteressant, a vontade e tempo para blogar têm escassado.

Gaspas disse...

Tive pena de perder essa entrevista.
Não vou falar da reforma do ensino artístico pois isso dava pano para mangas. Em relação à especificidade do ensino da música, e a necessidade de aulas individuais no ensino do instrumento, é verdade que isso torna o ensino substancialmente caro, mas absolutamente necessário. Também é verdade que existem métodos que abarcam o ensino de instrumento em grupo, como é o caso do método Suzuki, mas que só funciona em idades pequenas e com uma metodologia muito própria e que envolve a presença constante dos pais. A nova proposta de reforma chega a falar no professor de instrumento como o decurião (que na Roma antiga era o responsável por comandar grupos de 10 homens), absolutamente ridículo. Mas para quem não queria falar da reforma… já chega. Queria apenas sublinhar a importância do ensino artístico e em especial da música para o desenvolvimento das sociedades e dos indivíduos (esta opinião é consensual entre os maiores pensadores da actualidade). A valorização pessoal, o desenvolvimento da criatividade, da percepção sensorial, etc. vão ajudar os indivíduos a crescer e a desenvolver-se não só na música como em outras áreas tão distintas como a economia, a ciência, a matemática, etc. O ensino (a sociedade) precisa de investir seriamente na componente artística, só assim se poderá ter uma sociedade melhor.

rb disse...

Muito obrigado pelo teu comentário, Gaspas. Tu, melhor do que ninguém, sabes do que falas.
A questão da especificidade do ensino da música e da necessidade de aulas individuais, é de facto um problema.
Se os professores do 1.º Ciclo ou ensino primário já se queixam de que é impossível dar aulas a crianças de 6-10 anos de idade com turmas de 20 e mais alunos e mesmo assim o ministério e as DRE obrigam os professores a dar aulas nessas condições, com claro prejuízo para a sua saúde física e mental e, claro está, para o rendimento das crianças na aprendizagem, imagino quão problemático deve ser para o Estado o ensino artístico com necessidades e especificidades bem mais dispendiosas.
Mas se queremos sair da "cepa torta" há que apostar o máximo possível, mas parece que a arte vai continuar a ser desvalorizada pelo Estado e vai ter de continuar a viver, fundamentalmente, do voluntarismo dos seus amantes.