sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Zeca Afonso: Sempre!

Faz hoje 20 anos que faleceu o autor da mítica canção Grândola Vila Morena, verdadeiro hino da revolução do 25/4.
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, mais conhecido como Zeca Afonso ou simplesmente Zeca, nasceu em Aveiro, a 2 de Agosto de 1929 e faleceu em Setúbal a 23 de Fevereiro de 1987.
Desde muito miúdo que me habituei a ouvir a sua voz e canções, com os meus pais, em casa ou no carro, era companhia habitual. Naltura, ainda sem me aperceber do conteúdo e densidade política das suas letras.
Vejam bem, Vampiros, O que faz falta é animar a malta, Maria Faia, Venham mais 5 são só aquelas que de repente me vêm à cabeça, no meio de tantas outras mais.
Era um músico dum talento ímpar, porque apesar de pouco "saber" de música e mal conseguir esgalhar um acorde na guitarra, compôs centenas de canções únicas, daquelas que nunca cansam no ouvido e que o tempo não apaga.
A sua música tem ritmo, cheira a África, onde ele viveu a sua mais tenra infância, em Angola e Moçambique e, claro está, tem a influência da música tradicional portuguesa, o foclore português. Esta é a sua raiz.
À qualidade da música do Zeca, naturalmente, foram-se juntando alguns dos melhores "ingredientes" musicais portugueses: Julio Pereira, Adriano Correia de Oliveira, José Mario Branco, Janita Salomé, são alguns exemplos.
São também vários os músicos que o interpretam, como é o caso de Cristina Branco, que recentemente editou um disco só com versões do Zeca. No Jazz tem sido também inspiração para Mario Lajinha, Bernardo Sasseti, Jacinta. Jazzar o Zeca, por exemplo, é um recomendável trabalho de Zé Eduardo Unit.
A sua bibliografia pode ser vista aqui e também vale a pena espreitar a Associação José Afonso (AJA) e o respectvo blog, que foram fontes deste postal.

Zeca Afonso, sempre
!!

caricatura

5 comentários:

Gaspas disse...

Hoje ouvi uma entrevista na rádio, salvo erro na Ant1, com o José Mário Branco, com o Fanhais, entre outros, falando do músico, do poeta, do cantor e acima de tudo do ser humano que era o Zeca.
Nesta entrevista contaram algumas histórias que viveram com o Zeca e que revelam bem a genialidade e ao mesmo tempo a grandeza e solidariedade deste ser humano.

As suas canções de intervenção que fizeram parte de um período de mudança e revolução permanecem muitas delas (a maior parte) actuais no nosso contexto político e social que vivemos. É preciso ouvi-las, re-ouvi-las e passá-las às novas gerações para que nunca se esqueçam.
Viva o Zeca!! Viva a Liberdade!!

rb disse...

Sem dúvida, Gaspas!
Também ontem à noite ouvi, vi, uma entrevista interessante no jornal da SIC notícias, era um tipo conhecido, dos antigos, não estou a ver o nome, mas, reconheci-lhe a voz (seria o Manuel Freire?...). E a meio da entrevista cantou, ali mesmo, e bem!, a Canção de Embalar: "Dorme meu menino, a estrela de alva ..." e chamou a atenção de que muita gente (que critica sem ouvir!, digo eu), pensa que a música dele era demjasiado politizada (certamente pela Grândola) e não é assim, porque o Zeca tem de tudo, desde fado, foclore português, pop(xula), samba, afro qualquer coisa, jazz, valsas, canções de embalar e tudo mais.

rb disse...

Canção de Embalar

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será para ti
Outra que eu souber será para ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela - d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Deixa-a vir também adormecer

Anónimo disse...

Excluindo os tributos que um pouco por todo o país têm sido feitos por pequenas colectividades e ainda alguns municípios, a verdade, nua e crua, é que ao nível dos media, continua a existir um alheamento ignóbil dessa figura ímpar da cultura portuguesa. Salvo erro saíu um único artigo de algumas páginas na Visão e foi emitido um programa na RTP1 depois da uma da manhã da passada sexta-feira, bastante interessante por sinal, mas que de certeza o responsável pela programação não quis que o mesmo chegasse a muita gente...
A nível discográfico, o melhor que conseguiram arranjar foi uma colectânea publicitada como o "essencial" de José Afonso, como se tal fosse possível em apenas 30 temas. Cabe aqui chamar a atenção para um blog de música excepcional (www.ratorecordsblog.blogspot.com), no qual estão a ser divulgados todos os albuns originais do Zeca. E com a qualidade habitual que esse blog vem há muito partilhando música antiga, que, tal como acontece com os discos do Zeca, dificilmente se consegue encontrar nas lojas deste país (e não só...)

rb disse...

Obrigado pelo comentário, Anónimo.
O reparo aos media é absolutamente pertinente, embora, não me espante o facto.
Ainda no 100.º aniversário do nascimento de Fernando Lopes Graça, um dos maiores vultos da composição nacional contemporânea, fizeram o mesmo. Passaram um excelente documentário sobre a sua vida e toda a envolvente à 1:00, num dia de semana.
Infelizmente, é o serviço público que temos.
Excelente referência a do Rato Records Blog!